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Entendendo Bolsonaro

Elogio de Bolsonaro ao trabalho infantil é defesa de passado inexistente

Entendendo Bolsonaro

05/07/2019 14h30

(Crédito: AFP/Evaristo Sá)

*Carlos Juliano Barros

Em 'live' transmitida na noite desta quinta-feira (4) nas redes sociais, Jair Bolsonaro fez uma defesa do trabalho infantil, se ancorando em experiências pessoais para tal.

O seu entendimento desta prática como atividade formadora de caráter é uma ilustração perfeita do pensamento "reacionário", na acepção mais precisa do termo.

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Como bem define o ensaísta americano Mark Lilla, o reacionário é um "exilado do tempo". Ao contrário do revolucionário, que se julga profeta de uma nova era, o reacionário se enxerga como guardião de uma época idílica.

O revolucionário vê o futuro radioso que os outros não são capazes de ver, e com isto se exalta. O reacionário, imune às mentiras modernas, vê o passado em todo o seu esplendor, e também se sente exaltado. Sente-se em mais forte posição que o adversário por se julgar guardião do que de fato aconteceu, e não profeta do que poderia ser.

Mark Lilla, "A Mente Naufragada" (Ed. Record, 2018)

Não é por outra razão que Bolsonaro faz questão de citar sua própria história de vida, recuperando um passado supostamente harmonioso em que ele e seus irmãos, mesmo crianças, dirigiam tratores e praticavam tiro na fazenda em que foram criados.

Para o reacionário, ainda segundo Lilla, a história "começa com um Estado feliz e ordenado no qual as pessoas que conhecem seu devido lugar vivem em harmonia, submissas à tradição e a seu Deus. Vêm então ideias alienígenas promovidas por intelectuais – escritores, jornalistas, professores – questionar essa harmonia, e a vontade de preservar a ordem é debilitada no topo da pirâmide".

Abalar a credibilidade da imprensa, desmascarar "artistas que mamam na Lei Rouanet", defender o Escola Sem Partido. Não poderia ser outro o plano de um governo reacionário.

Mas Mark Lilla adverte: "é mero preconceito considerar que os revolucionários pensam, ao passo que os reacionários apenas reagem". Há uma vasta tradição, pouco estudada, do pensamento reacionário. É preciso, de fato, compreendê-la.

*Carlos Juliano Barros é jornalista. Dirigiu os documentários "GIG – A Uberização do Trabalho", "Entre Os Homens de Bem" e "Cartas para um Ladrão de Livros".

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