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Entendendo Bolsonaro

Weintraub era o maior símbolo do desgoverno Bolsonaro

Entendendo Bolsonaro

18/06/2020 23h53

(Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

* Murilo Cleto

Num vídeo ao lado do presidente Bolsonaro, Abraham Weintraub anunciou ontem (18) sua despedida do Ministério da Educação. A notícia confirma os rumores de que o Planalto o desligaria em busca de um armistício com o Supremo Tribunal Federal. Nas últimas semanas, a tensão com a Corte vinha escalando muito graças às intervenções do ministro.

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Weintraub havia dito, na malfadada reunião de 22 de abril, que, se pudesse, mandaria prender os ministros do STF. No último fim de semana, visitou o acampamento de bolsonaristas fanáticos em Brasília e confirmou a declaração. Não deu outra: caiu para ajudar a manter o presidente em pé.

Na despedida, o ministro não foi capaz de listar um único feito à frente do MEC. Nem seria possível: não aconteceu absolutamente nada na gestão Weintraub. Aliás, sequer houve gestão.

Até o controverso programa de alfabetização pelo método fônico ficou somente na conversa. Símbolo de uma guinada na política educacional brasileira, o programa de escolas cívico-militares, além de ruim e caro, só chegou a 54 escolas esse ano. O "Future-se", ainda pior, mais parece um espectro.

Logo que assumiu, Weintraub comprou briga com as universidades públicas; bloqueou recursos; cortou bolsas; ofendeu estudantes; xingou muito no Twitter; ameaçou servidores da pasta; boicotou as cotas; fez pouco caso das Humanidades; atacou a imprensa; e teve até a capacidade de abrir uma crise diplomática com o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. Sem dúvidas, Weintraub era o maior símbolo do desgoverno Bolsonaro.

O termo "desgoverno" acabou ficando gasto no debate público, mas, nesse caso, é preciso. Em seu mais novo livro sobre a crise política no Brasil, o filósofo Marcos Nobre parte do pressuposto de que, para se manter fiel ao seu projeto autoritário, Bolsonaro precisou se negar a governar – mesmo e sobretudo quando mais precisava, diante da grave crise sanitária que assola o mundo.

O próprio Mandetta é um exemplo disso. Até então apagado, apareceu disposto a coordenar a crise e acabou sendo sacrificado. Porque governar implicaria compor, ao menos em alguma medida, com o sistema – o que é terminantemente proibido no presidencialismo bolsonarista. A única grande exceção é o acordo de emergência com o Centrão.

Nascido e crescido em meio à escalada da crise, Bolsonaro precisa dela para não soar como os demais. É o que o motivou a fugir do movimento intuitivo de costurar consensos para obter maioria tanto no Congresso quanto na sociedade civil. Em vez disso, apostou na base e viu, sem maiores traumas, a própria popularidade desidratar.

O objetivo, claro, é se perpetuar no poder e destruir a democracia. Para isso, Bolsonaro precisa de duas coisas: a máquina e a fala. A máquina para garantir que os serviços do Estado continuem sendo prestados, ainda que de modo disfuncional; e a fala para desmoralizar as instituições, constrangê-las e corroê-las para tomá-las de assalto despudoradamente no longo prazo.

Paradoxalmente, o desgoverno é, portanto, o que dá legitimidade a essa ofensiva. E ninguém melhor do que Weintraub para esse papel. O ex-chefe do MEC fez de tudo, menos governar. Enquanto os burocratas faziam o serviço administrativo, o ministro se aproveitou da ampla estrutura do ministério para ajudar Bolsonaro em sua guerra contra as instituições brasileiras. Sai ovacionado pelos apoiadores mais radicais do presidente, que fez de tudo para não demiti-lo.

Não se trata de dizer que Weintraub é pior que os demais ministros. Sem dúvidas, a briga é boa – e o próprio vídeo da reunião é prova inconteste disso. A questão é que Weintraub conseguiu reunir, como nenhum outro, tudo que se espera de um agente bolsonarista no poder: uma grande máquina a seu dispor; uma capacidade invejável de bajulação ao chefe; um vigor incansável no tensionamento retórico com o "sistema"; e a mais absoluta indisposição a governar.

Justamente por isso, Weintraub "cai para cima". Se confirmada sua indicação ao Banco Mundial, deve ter o salário quintuplicado e livre de impostos.

* Murilo Cleto é historiador, especialista em História Cultural, mestre em Ciências Humanas: Cultura e Sociedade e pesquisador das novas direitas no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná.

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