Movimento integralista radicaliza as ações no momento atual
Entendendo Bolsonaro
26/12/2019 12h24
(Crédito: Reprodução/Twitter)
*Odilon Caldeira Neto
Um grupo neointegralista, intitulado "Comando de Insurgência Popular Nacionalista", reivindicou a autoria do ataque terrorista à sede do Porta dos Fundos, realizado na última terça (24).
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Mas quem são esses grupos, e o que é o neointegralismo?
O integralismo brasileiro surgiu oficialmente em 1932, com a Ação Integralista Brasileira (AIB), fundada sob uma matriz conservadora e ultranacionalista, inspirado fortemente por correntes diversas do pensamento autoritário brasileiro e, especialmente, pela onda do fascismo internacional. Foi a principal organização fascista fora do continente europeu, assim como um movimento e partido político que agregou milhares de militantes e adeptos até 1937.
Em linhas gerais, o neointegralismo pode ser definido a partir de um marco e fato definidor, qual seja o ano de 1975, após o falecimento de Plínio Salgado, que foi o principal líder da AIB e de outras organizações integralistas.
Os grupos neointegralistas se diferem justamente devido à sua fragmentação, desarticulação e leitura que cada uma dessas organizações faz do passado integralista. Embora Plínio Salgado tenha sido o líder máximo, demais lideranças como Gustavo Barroso e Miguel Reale davam outras tonalidades ao movimento integralista, o primeiro com uma feição mais radical e antissemita, o segundo com uma roupagem mais técnica e aproximada ao fascismo italiano.
Tal como diversos grupelhuuos neofascistas existentes no mundo, é a partir da leitura sobre o passado comum (nacional, de modo geral, e integralista, mais especificamente) que esses grupos se organizam para atuar no presente, ora buscando uma atuação mais institucional, ora buscando a radicalização política.
Assim, não existe apenas um grupo neointegralista, mas são (e foram) diversos grupelhos existentes desde 1975. Alguns cogitaram criar partidos políticos (como o Partido da Ação Integralista, idealizado durante o nascimento da "Nova República"), outros se aproximaram de partidos políticos como o Prona, de Enéas Carneiro. Já outros enveredaram por caminhos mais radicais e "revolucionários", se aproximando de grupos neonazistas e de skinheads.
Organizações como a "Frente Integralista Brasileira" são apenas uma expressão do neointegralismo na atualidade, que coexiste com outros grupelhos que também reivindicam o passado integralista, como a Associação Cultural Arcy Lopes Estrela (ACCALE), o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B), entre outros.
Cada um desses grupos faz uma leitura do passado integralista, privilegiando determinados aspectos da ideologia, de acordo com seus interesses e de suas interações no campo macro do neofascismo internacional.
No caso do grupo que reivindica o ataque, existe uma afeição às porções mais radicais do integralismo histórico, qual seja aquela influenciada fortemente pelo discurso conspiracionista e antissemita, que teve em Gustavo Barroso a sua principal referência histórica.
Não é possível, contudo, afirmar que a organização "Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira" esteja necessariamente vinculada a algum desses grupos, embora haja pistas que podem e devem auxiliar as possíveis investigações. Elementos como locações, lideranças e alguns detalhes divulgados em vídeos, assim como vozes e tatuagens, certamente facilitarão o reconhecimento dos responsáveis pelo ato.
*Odilon Caldeira Neto é professor de História Contemporânea da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), autor de "Sob o Signo do Sigma: integralismo, neointegralismo e o antissemitismo" (Ed. UEM, 2014) e autor da tese " 'Nosso nome é Enéas!': Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), 1989-2006"
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